Impacto Ambiental da Cana-de-Açúcar


Com exceção de alguns estudos da Embrapa Monitoramento por Satélite, são poucos os trabalhos de pesquisa que tenham realizado de forma circunstanciada e abrangente a avaliação do impacto ambiental (AIA) da localização atual do cultivo da cana-de-açúcar. Desconhece-se a existência no Brasil de outros trabalhos de avaliação do impacto ambiental da evolução espaço-temporal do uso das terras em regiões canavieiras, cobrindo - por exemplo - a evolução dos últimos 30 anos.

No tocante à AIA das técnicas e tecnologias empregadas nos sistemas de produção de açúcar e álcool - onde se insere, por exemplo, o caso da queimada da palha da cana-de-açúcar, - três subsistemas foram profundamente alterados, através da implantação do Programa PROALCOOL, em S. Paulo e devem ser simultaneamente considerados: o do cultivo da cana (subsistema agrícola), o da sua transformação em açúcar e álcool (subsistema industrial) e enfim o subsistema de transportes. As conseqüências dessas mudanças sobre o meio ambiente e a sócio-economia das regiões atingidas direta ou indiretamente, apesar de sua magnitude e importância para o país, ainda são globalmente desconhecidos.

Há sentido em discutir o impacto ambiental (ecológico + sócio-econômico) da queima da palha da cana, por exemplo, na medida em que entendemos o impacto ambiental do conjunto dos componentes que atuam no subsistema do cultivo da cana-de-açúcar. Somente no tocante a impacto ecológico, a figura abaixo dá uma visão simplificada das diversas dimensões envolvidas.

Algumas das interações existentes nesse subsistema, como a troca de gases com a atmosfera, por exemplo estão sendo estudadas parcialmente ou monitoradas por instituições, nacionais (INPE, CETESB, Embrapa Monitoramento por Satélite, USP, ECOFORÇA, UNICAMP, CTC etc) e estrangeiras (EPA).

Essas interações variam no tempo com o desenvolvimento e a introdução de novas tecnologias (reaproveitamento do vinhoto, controle biológico da broca da cana, colheita mecanizada de cana crua etc.) e no espaço conforme os solos, o relevo, o clima e o uso das terras. O estudo de um componente ou de uma "flecha" de um subsistema não autoriza ninguém a justificar ou condenar o sistema de cultivo ou a produção da cana-de-açúcar em termos de impactos ambientais. Avaliação do impacto ambiental do sistema de produção da cana-de-açúcar não foi realizada de forma completa, ainda que em caráter piloto, em nenhum lugar de S. Paulo ou no Brasil e ao que saiba-se.

Obter-se um quadro e métodos de referência, contendo um modelo o mais completo possível do sistema de produção da cana-de-açúcar e de suas interferências ambientais, poderia constituir uma base importante para a tomada de decisões ao nível de planejamento ambiental e manejo integrado nas bacias e municípios do interior paulista e de outras regiões do país. Esta página pretende ser uma contribuição nesse sentido, reunindo informações técnicas e conhecimentos científicos sobre o assunto. Isto implica em efetivamente inaugurar no país, uma política territorial, levando ao direcionamento da ocupação e uso do solo. Essa política de grande envergadura deveria ainda contar com a participação dos vários segmentos da sociedade envolvidos num processo decisório, o que forçosamente implica em delinear, a partir da realidade presente, um cenário de paisagem futura para a região. Conciliar desenvolvimento e meio ambiente, gerando perspectivas mais seguras e estáveis para as comunidades, é o desafio para os trabalhos atuais e futuros de pesquisa e desenvolvimento nessa temática.